"Por que falam tanto de Yoani Sánchez?", pergunta o jornalista Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo. Porque ela fala coisas que os americanos querem que sejam ditas; no fundo, na visão do jornalista, ela é apenas mais um escaravelho
18 de Fevereiro de 2013 às 21:23
247 - O jornalista Paulo
Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, decifrou a charada. Por que falam tanto
de Yoani? Por uma razão simples: ela fala exatamente aquilo que os americanos
querem que seja dito. Leia, abaixo, seu texto no Diário do Centro do Mundo, um
dos melhores sites da internet brasileira:
Por que falam tanto de Yoani?
Paulo Nogueira
Yoani Sanchez, a blogueira cubana, recebe uma
cobertura enorme da mídia brasileira e internacional por uma razão: ela critica
Cuba.
Por isso ela será tratada como estrela pop na
turnê mundial que começa agora, entre os brasileiros. (O governo cubano deu uma
absurda contribuição à aura de ‘martírio’ de Yoani com sua indefensável
política restritiva para viagens e para o livre debate político, mas isto é
outro assunto.)
No Brasil, sabemos que escrever contra Lula
encurta o caminho rumo a colunas no Globo, na Veja, no Estadão e na Folha. Ou a
participações na CBN e na Globonews, e assim a vida caminha.
No mundo, escrever contra Cuba, ainda mais se
você é cubano e ainda mais se você vive lá, como Yoani, é garantia de ampla
cobertura da mídia americana, cuja repercussão é planetária.
Ao longo dos anos, esse tipo de conteúdo
serviu aos interesses americanos de fazer propaganda contra qualquer coisa
parecida com socialismo.
Ajudou também a dar argumentos, perante a
opinião pública mundial, para que os Estados Unidos mantivessem um abjeto
bloqueio econômico que impediu Cuba de se desenvolver desde a Revolução de
Fidel.
Essa propaganda serviu também de apoio às
inúmeras tentativas que os Estados Unidos fizeram de matar Fidel e de tornar
Cuba outra vez um quintal americano encostado em Miami — ou um bordel, como era
antes.
O que teria sido de Cuba sem a impiedosa
perseguição americana?
Os Estados Unidos descobriram, nos anos 1950,
a receita de golpes no exterior. Propaganda para desestabilizar regimes, e
depois a presença nas sombras da CIA.
A receita funcionou na Guatemala e no Irã. Na
Guatemala, o presidente progressista Jacobo Arbens foi sabotado por ter
desapropriado terras (não cultivadas) de uma empresa americana que produzia
bananas, a United Fruits. Arbens queria melhorar a vida de camponeses
miseráveis.
Os americanos o tacharam de comunista por
meio de aliados na mídia, financiaram um exército de mercenários sob o comando
de um general assassino exilado em Honduras e acabaram derrubando Arbens.
Nasciam assim as Repúblicas das Bananas.
Num documentário, lembro a cena de Nixon,
então vice-presidente, saudando diante das câmaras de televisão o general.
“Pela primeira vez na história, um povo derruba um governo comunista”, disse
Nixon.
O povo guatemalteco nada tivera a ver com o
golpe. Foi mais uma das múltiplas mentiras contadas por Nixon em sua vitoriosa
carreira.
Vale a pena uma pausa para ver Nixon em ação,
logo no início do documentário.(Veja)
A mesma receita foi
aplicada no Irã do progressista Mossadegh, com os mesmos resultados. Num livro
sobre o golpe no Irã do renomado jornalista investigativo americano Stephen
Kinzer, ele ouviu um agente da CIA que, naqueles dias, era pago para escrever artigos
anti-Mossadegh que eram imediatamente publicados na imprensa iraniana
conservadora.
Dois sucessos não levam necessariamente a
três.
Os americanos usaram a mesma tática para
derrubar Fidel, e sofreram uma avassaladora derrota no episódio que passou para
a história como a Invasão da Baía dos Porcos.
O povo cubano, mais que o próprio regime de
Fidel, rechaçou os americanos. Os cubanos foram mais firmes que os
guatemaltecos e os iranianos – provavelmente porque conhecessem muito bem os
reais interesses dos Estados Unidos por trás do discurso de campeões do mundo
livre.
Nos últimos anos, você recebe tratamento
heroico dos Estados Unidos se falar mal do islamismo, ainda mais se for oriundo
do universo muçulmano.
O melhor exemplo disso é a somali Ayaan Hirsi
Ali, que ganha a vida nos Estados Unidos dando pancadas no Islã. Ayaan, antes
de terminar nos Estados Unidos, viveu como refugiada na Holanda. Lá, convenceu
um descendente de Van Gogh a fazer um filme antiislâmico e o resultado é que o
pobre Van Gogh foi morto por um radical. Ficou pesado o ar para ela na Holanda
e então os Estados Unidos a receberam com tratamento vip.
Yoani e Ayaan são casos parecidos, filhas da
mesma lógica.
O maior mérito de ambas é falar o que os
americanos querem que seja falado. São, para usar a expressão de Boff,
escaravelhas internacionais.
Fuente: DCM

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