A hora e a vez dos "sem médicos"
Quase a última crônica (II)
Pedro Porfírio
Medo do êxito dos médicos cubanos no Brasil leva elite mercantil a reações psicóticas e mesquinhas
O desespero de causa capitaneado por essas autarquias corporativas é focado sobre os médicos cubanos por que estes têm sido a salvação de lavoura em mais de 100 países em que serviram comomissionários do bem, que se negam a ver os cidadãos como fregueses, recusando a trabalharem para a máfia indecente que explora, com fins exclusivamente mercantis, hospitais, clínicas, laboratórios, empresas de medicina nuclear e toda a parafernália que faz do profissional em si um robô incapaz de diagnosticar uma gripe no diálogo curto e grosso com seus apequenados pacientes.
Pedro Porfírio
Medo do êxito dos médicos cubanos no Brasil leva elite mercantil a reações psicóticas e mesquinhas
"Será bom ver o alívio que mães ribeirinhas ou das favelas sentirão ao vê-los prescrever antibióticos a seus filhos, após diagnosticar uma pneumonia. O mesmo vale para gastrenterites, crises de asma e tantos diagnósticos para os quais bastam o médico e seu estetoscópio".
DAVID OLIVEIRA DE SOUZA, médico e professor do Instituto de Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês e ex-diretor médico do Médicos Sem Fronteiras no Brasil (2007-2010)
A notícia espetaculosa de que dois presidentes de conselhos regionais de medicina renunciaram só para não ter que assinar as licenças para médicos estrangeiros trabalharem onde os brasileiros recusam é apenas a ponta do iceberg de um sistema de saúde de profissionais formados para subordinar o atendimento aos interesses do complexo empresarial do ramo.
Na verdade, não é aos profissionais pátrios que servem esses obsoletos conselhos corporativos em sua insana, desumana, mesquinha, hipócrita, inglória e odienta campanha para manter milhões de brasileiros sem médicos, pelo crime de não se enquadrarem nos perfis do mercado da saúde.
Nessa orquestração dolosa o que se pretende proteger é um sistema mercantil e corrupto, formatado como subproduto de uma ditadura que fomentou a privatização do ensino e dos serviços médicos, introduzindo a terceirização que facilita a fraude, os extorsivos planos de saúde e aniquilando o sistema público que era modelar nos tempos dos IAPs e do SAMDU.
Isso está cada vez mais claro nas atitudes arbitrárias de alguns controladores desses conselhos, no confronto cego com a opinião pública,
inclusive de muitos colegas que já começam a dar demonstração de que estão envergonhados diante de práticas tão deletérias, com a exibição da mais sádica insensibilidade, permeada de demonstrações sórdidas como o corredor polonês que alguns médicos fizeram no Ceará para insultar seus colegas cubanos (foto) e até mesmo de renúncias psicóticas e suspeitas.
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| Esse é o espírito de alguns médicos brasiliros que hostilizam os cubanos por que temem seu êxito |
Colegas que vêm de um país onde os índices de saúde dão um banho nos nossos e, em alguns casos, até mesmo nas grandes potências. País pequeno mas indomável, onde a saúde pública alcança rigorosamente (e bem) a todos os seus habitantes, apesar do boicote econômico cruel e imoral que sofre do vizinho todo poderoso.
De tão ignominiosa é essa resistência que os brasileiros, como eu, já começam a temer pelo atendimento prestado, inclusive aos 40 milhões que se sentem obrigados a pagar caríssimos planos privados, tal a imagem que brota de toda uma classe que lida com o mais sagrado de nossos bens, a vida.
A meu ver, há todo um parentesco próximo entre a decisão de não permitir o atendimento médico nos sertões, caatingas e onde o vento faz a curva neste país continental e a farra imoral das empresas de saúde, que estão abandonando os contratos de reajustes controlados pela fórmula que lhes permite unilateralmente determinar os aumentos que lhes apetece a sanha.
Em ambos os casos, ganha a máfia da saúde que faz desse mercadoum dos mais atraentes negócios do país: hoje muitas redes e hospitais pertencem a bancos, como a Rede D'or, do Rio de Janeiro, controlada pelo Pactual.
Até mesmo figuras manjadas do poder paralelo - grileiros e empresários de ônibus - estão investindo no atendimento privado de saúde, que hoje fatura mais do que os R$ 75 bilhões do orçamento público federal e nos submete às mesmas filas e ao mesmo chá de cadeira do SUS, minado por dentro e por fora por quem não tem o menor tesão de servi-lo.
O que esses "capos" de interesses exclusivamente pecuniários não entendem é que hoje as comunicações fluem independentes da manipulação solerte: todo mundo sabe que antes de chamar médicos de outros países, o governo priorizou os brasileiros, mesmo esses saídos das faculdades de balcão, que não são submetidos a nenhum "confere", como acontece com os advogados.
Sabe que até sobre estes os conselhos corporativos mercantis conseguiram influir negativamente e que quase a metade dos poucos que se habilitaram já pediram as contas.
Houve um, aqui na baixada fluminense, que pediu férias no terceiro dia de serviço, uma atitude nada surpreendente se considerarmos a relação improdutiva de parte de uma categoria que está no SUS trabalhando uma vez por semana, em plantões de 24 horas corridas. Ou que chegam ao cúmulo se usarem dedos de silicone para falsificar presenças em unidades que adotaram a frequência biométrica, como aconteceu em São Paulo.
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| CLIQUE AQUI e leia a entrevista da socióloga norte-amricana |
Nessa cruzada estúpida e indefensável parece claro o medo de que a presença de profissionais formados com espírito público, cujo sucesso é cantado em prosa e verso pelas mais respeitadas publicações científicas até mesmo dos Estados Unidos e Inglaterra, venha a detonar a indústria do tratamento direcionado, aquela em que muitos profissionais anexam às receitas os cartões dos hospitais em que querem operar, dos laboratórios em que querem exames, das farmácias de manipulação e das óticas que recomendam sem o menor escrúpulo.
O médico cubano realmente é uma ameaça a todo um sistema que inviabiliza os serviços públicos onde, salvo raras exceções, não existem profissionais de dedicação exclusiva, e onde não há como ganhar algum com receitas caras e superpostas.
Vai ser muito incômodo para a mafiosa indústria da saúde se a metodologia profilática e o receituário modesto começarem a inverter os índices, assegurando aos sem médicos de hoje resultados concretos que não são alcançados nem nas concentrações litorâneas das ultra-sonografias transretais.
A medicina cubana venceu desde os poderes de sedução do vil metal até os criminosos bombardeios bacteriológicos que introduziram a dengue hemorrágica na ilha e tentaram pelos ataques químicos o que não conseguiram por outros meios, inclusive por uma invasão mercenária e pelo bloqueio econômico.
Graças à firmeza da presidente Dilma Rousseff, -reconheça-se com honestidade - o Brasil das pessoas de bem está em festa. Enfim, milhões de cidadãos que dependiam de curandeiros vão sentir o cheiro de um médico e isso por si já á um grande remédio.
Por força do destino os sem médicos de hoje, os pobres das paragens longínquas, vão ter o privilégio de lidar com profissionais que falam sua mesma língua, por que mais do que o idioma, facilmente assimilado, aproximam esses profissionais de hábitos simples e conscientes o sentido maior da verdadeira medicina, a que conserva sua humanidade como razão de ser.
Que entende a vida como ela é - um bem mais importante de que todo o dinheiro do mundo e não um produto de mercado.
Enquanto isso, derrotados e mal vistos pela população, os médicos de mercado, sem o mínimo de autocrítica, recorrem ao revanchismo político como se ainda fossem donos das cabeças de fregueses desinformados: estão em plena campanha contra a reeleição da presidenta, em atitudes tão tacanhas que, assim, se converterão paradoxalmente nos seus grandes eleitores.



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